No dia 1 de março, decorreu, na biblioteca do Agrupamento de Escolas de Alhadas, o Concurso de Leitura, subordinado ao tema "Cooperação / Solidariedade", no qual participaram os alunos do 2º e 3º ciclos. Os primeiros escolheram textos narrativos (contos) e os segundos textos poéticos.
Eis os textos e vídeos dos vencedores:
2º Ciclo
Beatriz Coutinho e Francisca Silva - 6ºD
Obaluwaiyê, o Dono da
Peste
[...] há
uns 900 anos passados, nasceu um menino, e os pais botaram o nome de
Obaluwaiyê. Este menino foi crescendo, e quando já estava mais ou menos com uns
quatorze anos de idade, resolveu sair pelo mundo para conseguir bons trabalhos
e ganhar muito dinheiro para ele e seus pais.
Um dia
amanheceu já preparado, tomou a benção aos pais e saiu pela porta a fora,
procurando um jeito de vida. Andou, andou, andou muito mesmo, até que por fim,
depois
de já ter passado por varias
cidadezinhas, deu numa cidade muito grande e começou a procurar emprego. Porém
ninguém quis lhe atender, e por se achar esfomeado resolveu bater na porta de
uma casa grande e muito bonita também. Quando vieram atender ele pediu esmola
e, por resposta, fecharam a porta da casa e não lhe deram coisíssima nenhuma.
Desiludido, continuou a andar, e um cachorro que estava deitado na dita porta
acompanhou ele até quando chegaram numa mata virgem, onde ficaram comendo
folhas e bichos de toda espécie. Obaluwaiyê por companhia naquela mata virgem
só tinha o cachorro e as cobras que sempre estavam junto com ele. Mesmo assim,
e com toda a fé que ele tinha em Olorum (Deus), não deixou de sofrer. Já estava
com o corpo todo aberto em chagas e o cachorro era quem cuidava, com sua
própria língua, aliviando as dores e sofrimentos. Obaluwaiyê já tinha perdido
toda a esperança de vida e estava jogado entre as raízes dum pé de rôko
(gameleira) esperando a morte. Foi quando ouviu uma voz dizer:
-
Obaluwaiyê, levanta-te já cumpriste a tua missão com os teus sofrimentos, agora
vais aliviar os sofrimentos daqueles que reclamam por ti.
[...] Ele
aí se ajoelhou, deu graças a Olorum, e pediu para que lhe desse o direito e a
virtude de poder cumprir aquela missão de acordo com a ordem que tinha
recebido; e assim, com um pedaço de pau, espécie de um cajado, umas cabaças
onde carregava água e remédio, e com o seu cachorrinho, começou a viagem de
volta para a tribo de seus pais. Nessa ocasião, em várias tribos de lugares
diferentes, estava assolando uma grande e desconhecida peste, e também morrendo
gente mesmo que formiga.
[...]
Obaluwaiyê passou pela última cidade que foi a primeira em que lhe negaram
emprego. Se dirigiu para a casa onde lhe bateram a porta na cara negando uma
esmola e pediu agasalho. Desta vez foi mais feliz. Não teve nem quem viesse
atender. Devido ao estado de saúde que todos do lugar se encontravam, as casas
amanheciam e anoiteciam com as portas já abertas. Logo que Obaluwaiyê entrou
nessa casa aconteceu um dos mais verdadeiros milagres. Todas as pessoas que
estavam doentes imediatamente levantaram da cama já curadas. Reconhecendo a
Obaluwaiyê, foram caindo a seus pés pedindo perdão do que tinham feito. Ele com
toda a paciência perdoava e dizia:
-Agora cada
um de vocês tem de ir ver uma folha perêgum, pintar com efum, osum e uáje
(ingredientes africanos) e em seguida pregar a folha na casa de cada um para
que Olorum tenha compaixão dos moradores desta cidade e isole todo o mal que
recaiu sobre vocês.
Imediatamente
foi tudo feito conforme determinação de Obaluwaiyê. A cidade se normalizou,
voltando a funcionar conforme antes da peste ter caído sobre ela.
SANTOS, Deoscóredes M. dos
Santos. Obaluwaiyê, o Dono da Peste In: Contos
Crioulos
da Bahia, narrados por Mestre Didi. Petrópolis, Vozes, 1976, p. 22 a 24.
3º Ciclo
Patrícia Martins (9ºB)
AMIGO
Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra «amigo».
«Amigo» é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
«Amigo» (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
«Amigo» é o contrário de inimigo!
«Amigo» é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada.
«Amigo» é a solidão derrotada!
«Amigo» é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
«Amigo» vai ser, é já uma grande festa!
Alexandre O'Neill, in «No Reino da Dinamarca»
Vera Alves (8ºC)
OS MENINOS DE TODAS AS CORES
Era uma vez um menino branco, chamado Miguel, que vivia numa terra de
meninos brancos e dizia:
É bom ser branco
Porque é branco o açúcar, tão doce,
Porque é branco o leite, tão saboroso,
Porque é branca a neve, tão linda.
Mas, certo dia, o menino partiu numa grande viagem e chegou a uma terra onde
todos os meninos são amarelos. Arranjou uma amiga chamada Flor de Lótus, que,
como todos os meninos amarelos, dizia:
É bom ser amarelo
Porque é amarelo o Sol
É amarelo o girassol
Mais a areia amarela da praia.
O menino branco meteu-se num barco para continuar sua viagem e parou numa
terra onde todos os meninos são pretos. Fez-se amigo de um pequeno caçador
chamado Lumumba, que, como os outros meninos pretos, dizia:
É bom ser preto
Como a noite
Preto como as azeitonas
Preto como as estradas que nos levam
Por toda a parte
O menino branco entrou depois num avião, que só parou numa terra onde todos
os meninos são vermelhos. Escolheu para brincar aos índios um menino chamado
Pena de Águia. E o menino vermelho dizia:
É bom ser vermelho
Da cor das fogueiras
Da cor das cerejas
E da cor do sangue bem encarnado.
O menino branco foi correndo mundo até uma terra onde todos os meninos são
castanhos. Aí fazia corridas de camelo com um menino chamado Ali-Babá, que
dizia:
É bom ser castanho
Como a terra do chão
Os troncos das árvores
É tão bom ser castanho como um chocolate.
Quando o menino branco voltou à sua terra de meninos brancos, dizia:
É bom ser branco como o açúcar
Amarelo como o Sol
Preto como as estradas
Vermelho como as fogueiras
Castanho da cor do chocolate.
Enquanto, na escola, os meninos brancos pintavam em folhas brancas desenhos
de meninos brancos, ele fazia grandes rodas com meninos sorridentes de todas as
cores.
Autora: Luisa Ducla Soares