terça-feira, 15 de março de 2011

As calças de ganga

Olá! Eu sou umas calças de ganga, tamanho 32, fabricadas em Portugal, e para ser umas calças mais “importantes” colocaram-me uma etiqueta com uma máquina de costura e umas letras: “Tiffosi”.

Vou contar-vos a história da minha vida.

Certo dia, alguém decidiu pegar num pouco de ganga e começar a criar-me. Cortar daqui, coser dali e aos poucos e poucos comecei a ganhar forma. Foi assim a minha primeira fase de vida, numa fábrica. Foi um começo de vida muito cansativo e violento, pois passei por várias máquinas, muito esquisitas, e mãos de muitas, muitas pessoas. Em pouco tempo fiquei pronta.

Colocaram-me então junto de todas as minhas irmãs... e tantas que eram! E bem apertadinhas, num lugar escuro, preparámo-nos para uma longa viagem.

Ao fim de imensos dias num camião, chegámos finalmente a uma lugar magnífico, cheio de roupas, acessórios, música e muitas prateleiras. Foi numa prateleira alta e branca onde eu fiquei. Estive aí vários dias. E pensava:

― Será que ninguém me leva? Será que sou feia?

Fui experimentada várias vezes, mas ia sempre parar ao mesmo sítio. Até que um dia uma rapariga loura, de olhos azuis, decidiu levar-me com ela.

O primeiro dia em que a Maria me usou foi fantástico, senti-me a rainha da sua escola. Ela gabava-se a todas as amigas das calças novas, fui um sucesso.

A pior parte foi quando cheguei a casa e ela atirou-me para o chão, amassou-me e não se importou mais comigo. Fiquei no seu quarto, muito triste, até que a empregada me levou para dentro de uma coisa redonda, com muita água, espuma e onde me diverti imenso com as cambalhotas que dei.

A Maria usou-me mais duas ou três vezes e fui perdendo o interesse, foram chegando calças novas e fui ficando no fundo da gaveta, carregando com todas as outras. Um lugar horrível, escuro e frio.

Um dia, alguém pegou em mim, colocou-me num saco com inúmera roupa e fui parar a um lar cheio de crianças. Tanta pena que eu tive dos pobres meninos!... E pensei como seria possível ainda haver tantas pessoas a precisarem de ajuda.

No lar fui entregue a uma rapariga morena, que quando me viu ficou com um sorriso de orelha a orelha. Fez-me uma “festa”.

Esta menina quase me usava todos os dias. Cuidou de mim sempre com imenso amor e carinho. Nunca me amassou nem me abandonou num canto do seu quarto. Senti-me bem e útil pala primeira vez na minha longa vida.

Para mim foi muito importante passar o resto da minha vida ao lado daquela menina: a única que me deu o devido e merecido valor. Senti-me muito feliz.

Não posso dizer que tenha sido em vão que passei por esta vida.

Rute Lourenço, nº18, 8ºD

1 comentário:

  1. Excelente! Muita imaginação e sentido de humor. Adorei ler a tua narrativa. Continua!

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