domingo, 3 de dezembro de 2017

"O Afonso adormecido", um conto de Mónica Seabra

O Afonso adormecido
Era uma vez, num reino distante, um rei e uma rainha que tiveram um lindo principezinho, a quem chamaram Afonso.
Para celebrar o seu nascimento, todas as fadas foram convidadas para madrinhas. Cada uma das três fadas, como prenda, concedeu ao principezinho um dom especial. Todas exceto uma, a fada má, que não foi convidada.
Esta, sabendo que todas as outras fadas tinham sido convidadas para celebrar o nascimento do príncipe Afonso, decidiu aparecer na mesma. Como vingança, em vez de lhe conceder um dom, lançou-lhe uma maldição.
- Príncipe Afonso, no dia em que chegares ao quinto ano, nas tuas lições um e dois, quando fizeres o teste de diagnóstico de Português, vais tornar-te um autêntico preguiçoso. E, se adormeceres e ninguém te acordar em cinco minutos, dormirás para sempre!- disse a fada má, prevendo a atitude do rei, em mandar o príncipe para a escola, coisa que nem ele próprio ainda tinha pensado.
Olhando uns para os outros confusos, não imaginando sequer o que era o quinto ano e o que significava, fez-se um silêncio profundo durante alguns segundos.
Quando se aperceberam que o belo príncipe se ia tornar um preguiçoso, todos no castelo ficaram aflitos. Por sorte, havia uma fada boa que ainda não tinha concedido o seu dom e, apenas podendo evitar que o Afonso se fosse tornar num preguiçoso, alterou o feitiço da fada má, de modo que o principezinho em vez de se tornar num preguiçoso para sempre, se fosse tornar num preguiçoso apenas durante dois anos. Mas, acerca de dormir para sempre, só um beijo de amor o poderia salvar, também no prazo desses dois anos.
Quanto ao feitiço da preguiça, este só poderia ser quebrado nesses dois anos quando um professor sortudo o conseguisse fazer mudar.
Mesmo assim, pensando que o perigo era no reino, aos três anos o príncipe Afonso foi enviado, para uma conhecida do rei que morava no Paião. E não estando informada do acontecimento, colocou-o na escola.
Os anos passaram e a vida continuou sem nenhuma agitação, tornando-se a maldição apenas uma má lembrança. O príncipe Afonso foi crescendo também, apenas sabendo que só tinha a sua mãe para cuidar dele, a qual nunca lhe disse sequer que ele era um príncipe.
No primeiro dia que o Afonso teve Português, tal como o previsto, ele realizou o teste de diagnóstico e aconteceu exatamente o que era para acontecer: o Afonso tornou-se um autêntico preguiçoso.
O seu colega do lado, ao reparar que ele estava adormecido de tanta preguiça, comunicou ao professor. Mas já era tarde demais. O príncipe tinha adormecido por mais de cinco minutos na sala de aula.
Claro está que uma funcionária da escola logo ligou à «mãe» dele pensando que ele estava desmaiado.
A «mãe» dele logo informou o rei que lhe gritou:
- Não sabias da maldição?
Confusa, ela respondeu:
- Desculpe mas não me informou de nada.
- Não temos tempo para conversas, temos que pensar em alguma solução!
Então, radiante, ela exclamou:
- Lembro-me de ele me falar numa menina que acreditava em reis e princesas. Ele gosta muito dela e ela gosta muito dele.
- Já sei! Tenho de a informar.- disse ela.
E lá foi ela correndo feliz.
Depois da escola, lá a encontrou e chamou-a a sós para sua casa:
- Vem! Eu sei que parece estranho mas eu preciso de ti!
Quando chegaram e ela o viu assim, quase que chorou.
- Ele... na verdade, ele é um príncipe e eu sou a melhor amiga do rei. No seu nascimento ele recebeu uma maldição. Como sabes ele é um preguiçoso e se adormecer por mais de cinco minutos é isto que acontece. Só tu o podes salvar. Descobre tu mesma. Vou deixar-vos a sós.
Imediatamente, ela descobriu o que tinha de fazer sem ninguém lhe dizer nada. Ela beijou-o com todo o amor que tinha e... o príncipe acordou.
Mas infelizmente todos notaram que ele ainda era um preguiçoso.
Por sorte calhou-lhe o senhor professor Ângelo Cortesão.

Numa aula distante, depois de muitos ensinamentos e puxões de orelhas, o Afonso sentia-se diferente. O feitiço estava quebrado. Depois de tudo acabar, os dois pombinhos cresceram juntos e nessa mesma data, só que passados cinco anos, quando ambos tinham quinze, casaram e, novamente, houve uma grande festa. 

2 comentários:

  1. Excelente! Continua a "dar asas" à tua imaginação e a divertir-te escrevendo histórias tão engraçadas como esta.
    Parabéns!

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